O SEGREDO DO MEU IRMÃOZINHO – Parte 2

nenhum, normalmente eram sobre games
e futebol, duas coisas que eu gostava
muito — depois eu voltava para casa e me
trancava no quarto para bater um milhão de
punhetas durante o dia, vendo alguns filmes
pornográficos na internet e conversando
com alguns amigos virtuais em salas de
bate-papo, normalmente com teor de
sexualidade (e eu sabia que a maioria
daquelas “meninas” do chat eram homens
gays disfarçados, querendo ver um garoto
novo como eu se masturbando na webcam,
só que eu não me mostrava, apenas

fazia aquele chamado “sexo virtual” com
palavras).

O dia do meu irmãozinho Gabriel, ao
contrário do meu, era sempre muito
proveitoso. Durante a manhã ele tinha

o apartamento só para ele, e ficava
esparramado no sofá jogando em seu
Playstation2. Durante a tarde ele estudava
e quando saía da escola, nas segundas,
quartas e sextas-feiras, ele fazia um curso
de inglês em uma escola particular (que
nossa mãe bancava com muita dificuldade,
mas bancava por que ele assim pedira)

e nos outros dias, ele ia sempre para a
casa de algum amigo da escola e nossa
mãe o buscava depois do trabalho e eles
chegavam juntos em casa, normalmente lá
para quase 20 horas.

Gabriel tinha muitos amigos e quando
chegava em casa, passava horas e horas
no MSN (eu ouvia do meu quarto aquela
campainha chata que tocava sempre que
um contato respondia uma mensagem

no MSN, e eram seguidas, ele conversava
com muitas pessoas). O quarto dele era

tipicamente infantil e inocente: pôsteres

de super heróis da Marvel — um inclusive
do filme do Homem-Aranha de 2002 —

e também de personagens de desenhos
japoneses. Naquela época, eu pensava, que
moleque idiota, carismático e “fofinho” do
jeito que era, poderia estar pegando várias
novinhas putinhas na escola e preferia
perder tempo com essas porras de bebezão.
Nesta época Gabriel e eu mal falávamos,

e quando falávamos, era ele quem me
procurava e eu logo dava um fora para me
afastar dele.

= Cóe Dinho, vamo jogar? — Ele me
perguntava. Ele sempre me chamou de
“Dinho”, apelido de Cláudio, Claudinho.

— Vá-te foder moleque. — Respondia eu.

Às vezes eu me sentia culpado por trata-lo
assim. Gabs era meu irmão e apesar de
tudo, ele não tinha culpa da acepção que
nossa mãe fazia entre nós (embora ele

se aproveitasse muito disto). Mas eu não
conseguia, sentia muita raiva daquela

porra toda e continuava me afastando de
Gabriel. Ele tinha muitos amigos e todo
mundo achava ele fofinho, educadinho e
perfeitinho, ele não precisava de mim. Ao
contrário dele, eu já tinha poucos colegas —
amigos nunca tive — era antissocial a rodo
e definitivamente eu não era educado ou
perfeitinho. Eu às vezes queria sumir.

Mas ai a coisa mudou completamente de
cenário quando eu descobri o maior segredo
do anjinho, do garotinho inocente, do filho
perfeitinho e mimado Gabs.

Todos os anos, sempre nas férias de janeiro,
viajávamos para o interior de Minas Gerais,
para a cidade de Juiz de Fora, onde nossa
avó — mãe de nossa mãe claro — morava
em uma fazenda de sua propriedade com
muitos de seus filhos e outros netos. Eu
sempre odiei estas viagens, pois lá todos
babavam em Gabriel e me desprezavam
como sendo o filho rebelde e antissocial, a
cópia Xerox do pai canalha.

— Oi Claudio. Como você está? —
Perguntavam-me nossos tios e tias.

— Bem. Obrigado. — Eu respondia secamente
e com nenhum sorriso.

— G-A-B-S! Ô coisa fofa da tia! Nossa! Como
cê cresceu menino! Own e esse cabelo, que
coisa fofa, meu Deus! Parece um anjinho!
Vem cá, deixa a tia dar um beijão nessa
coisa fofa! — Eles diziam a Gabriel.

= Oi tia! Que isso, cê que é lindona tia. —

Ele dizia e depois dava um beijo de estalar
no rosto de nossas tias, seguido de um
caloroso abraço.

E era assim sempre, todos os anos desde
que me lembro. Elas davam presentes para
Gabriel e ele retribuía com abraços, beijos

e carinho meloso. O sorriso de Gabriel
sempre foi uma característica marcante
dele, principalmente quando ele passou a
usar aparelho ortodôntico fixo. Seu sorriso,
de borrachas verdinhas ou amarelinhas, era
encantador por revelar uma inocência divina
em seu rosto miúdo e angelical. Não era só
nossos parentes, qualquer pessoa que visse
aquele sorriso, se encantava naturalmente,
como se estivesse vendo de perto as
Cataratas do Iguaçu ou o observando a vista
dos bondinhos do Pão de Açúcar. Gabriel era
para as outras pessoas uma das maravilhas
do mundo. Com um jeitinho de anjinho,

tão natural e encantador, ninguém resistia
a sua inocência e seu carisma. Todos se
afeiçoavam a Gabs naturalmente, e quanto a
mim, todos se afastavam, pois tinham medo
que a qualquer momento eu fosse explodir
como uma bomba nuclear.

Uma de nossas tias, irmã de nossa mãe,
tinha um filho mais velho chamado Róbson,
e ele era moreno — quase negro — pois seu
pai era negro (sem racismo, negro café, não
negro chocolate, por assim dizer). Róbson,
fisicamente parecia comigo, embora fosse
um ano mais novo que eu (eu já estava com
dezessete e ele dezesseis anos de idade).
Era alto, bem encorpado, até musculoso,
mas se comportava como uma criança,
igualzinho a Gabriel. Passavam horas em
frente à TV assistindo aqueles desenhos
japoneses com personagens de olhos
gigantes e explosões cósmicas e o caralho a
quatro.

Eu odiava aquela porra toda, pois parecia
que Róbson era o irmão de Gabriel

= ignorando a cor — e eu era o primo
afastado. Eles eram unha e carne quando

se encontravam naquela maldita fazenda. E
o pior eram as coisas que minha mãe dizia
a mim quando estávamos afastados dos
parentes:

– Tente se comportar e não me envergonhar
na frente de nossos familiares, está

certo Claudiomar? Por que você não se
junta a seus primos como Gabs faz? —
Perguntou-me minha mãe dona Elisa.

— Não gosto deles. Não se preocupa, vou
ficar na minha ok? — Eu dizia emburrado.

E minha mãe simplesmente se afastava
bufando. Tudo o que eu fazia, ou deixava de
fazer, precisava ser comparado a Gabriel. E
Continua…

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